Após dois anos fora do intervalo de tolerância, o IPCA deve fechar 2023 em 4,46%, de acordo com a mediana das previsões dos agentes do Relatório FOCUS em 22/12. O valor, portanto, ficará aquém do limite máximo de 4,75% estabelecido pelo Sistema de Metas para a Inflação. A desaceleração em relação a 2022 (5,8%) ocorreu em virtude de uma conjunção de fatores.
Em primeiro lugar, a política monetária atuou para frear a atividade econômica, em uma ação coordenada não só pelo Brasil, como pelos bancos centrais em diversas regiões do mundo, visando conter o expressivo avanço dos preços motivado pela pandemia. Em segundo, houve deflação no atacado, o que ajuda a gerar repasses inferiores junto às famílias: o indicador específico da FGV (IPA – Disponibilidade Interna) registrou -6,4% nos últimos 12 meses até novembro. Boa parte do movimento é explicada pela cotação internacional das commodities, de modo que o índice que exclui o ouro caiu 23,8% nessa base, conforme o FMI. Por fim, a supersafra determinou o barateamento da alimentação no domicílio, cuja estimativa para 2023 é de recuo de 0,96%.
Já para 2024, tanto o consenso de mercado (3,91%) quanto o COPOM (3,5%) projetam que o IPCA continuará perdendo força. Apesar do ciclo de baixa da Taxa SELIC em andamento, os juros permanecerão em patamar restritivo, resultando em moderação da produção. Os prognósticos também apontam que o PIB do Brasil tende a arrefecer (crescimento de cerca de +1,5%) em comparação com 2022 e 2023 (+3,0%), provocando o abrandamento das pressões de demanda.
Por outro lado, o fenômeno El Niño é a causa por trás do decréscimo aguardado na oferta de grãos (-2,4%), sobretudo no Centro-Oeste, contribuindo para a reversão da queda da alimentação no domicílio (+4,10%). Temos ainda o aumento da alíquota fixa (ad rem) de ICMS incidente nos combustíveis a partir de fevereiro, a reoneração de PIS / COFINS em janeiro e o efeito de possíveis novos impostos para robustecer a arrecadação do governo.
O cenário prospectivo dá certa tranquilidade para que o COPOM siga reduzindo o balizador do custo das operações de crédito nos próximos meses. Além disso, a menor deterioração do poder de compra da renda da população antevista para 2024 é positiva para as transações envolvendo o comércio e os serviços.