Chegou a atualização do Indicador de Inadimplência CDL POA. Em fevereiro de 2023, registramo o ritmo mais inteso de crescimento desde o começo do levantamento, em fevereiro de 2022. Em relação a janeiro, a variação atingiu +0,4 e +0,5 ponto percentual para RS e POA, respectivamente.
De acordo com as informações restritivas, que contém os dados de pessoas físicas, verificamos que a população adulta negativada alcançou 2,693 milhões no Rio Grande do Sul e 384,9 mil em Porto Alegre. Entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, 33 mil gaúchos ingressaram no grupo, sendo mais de 6 mil porto-alegrenses. Registrando assim os percentuais ao lado.
Análise dos dados:
Diego Ramos, gestor de crédito e cobrança da CDL POA, comenta que em tempos de inadimplência alta, é imprescindível um olhar atento de quem opera crédito para atravessar este momento com os menores impactos possíveis, porém, é importante destacar que “fechar a torneira” sem muitos critérios pode ser tão prejudicial quanto o aumento da inadimplência, principalmente para o varejo, que, além do retorno financeiro das operações, tem influência direta nas vendas.
Para atenuar os riscos da operação de crédito, o gestor de crédito e cobrança recomenda que que as lojas redobram a atenção frente aos critérios de concessão, eventualmente com corte ou redução de liberação para perfis de maior risco; se possível, evitar penetração em portfólios e perfis não conhecidos; ter uma régua de cobrança bem definida, com antecipação de ações; dependendo da estrutura, busca de parceiros terceirizados para realização da cobrança.
O economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, explica que a deficiência de educação financeira de boa parte dos brasileiros é uma das causas estruturais do problema. “A falta de conhecimento a respeito do tema faz com que o consumidor não tenha discernimento para identificar se uma determinada operação de crédito é adequada considerando seus objetivos e seu quadro econômico”, detalha.
Além disso, esclarece o economista: “são os desafios da presente conjuntura econômica que vêm gerando aumentos sistemáticos dos nossos números, como os juros elevados e a sustentação da inflação ao redor de 6%. A retomada do emprego e as transferências de renda do governo federal, em compensação, estão ajudando a evitar uma situação pior no curto prazo”.
Perspectivas para o futuro:
A assessoria econômica da CDL POA aponta que, conforme a pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), realizada entre os dias 8 e 14 de fevereiro com 19 bancos, a expectativa, para 47,1% dos respondentes, é de que a inadimplência das pessoas físicas com recursos livres (linhas em que os custos e demais condições são voluntariamente pactuados entre oferta e procura) subirá em 2023. Já 29,4% acreditam em estabilização, de modo que o patamar atual, segundo as estatísticas do Banco Central, supera de forma significativa aquele verificado antes da eclosão do coronavírus.
A deterioração contínua das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), decorrente dos riscos fiscais e monetários, impede o início do ciclo de redução da Taxa Selic. Também constituem obstáculos para a queda consistente do índice: (1) o desaquecimento em curso do PIB do Brasil em comparação a 2022, com reflexos danosos no mercado de trabalho; (2) a estiagem da safra de grãos 2022/2023 no Rio Grande do Sul; (3) o encolhimento da demanda reprimida pelos segmentos que mais sofreram com a imposição do distanciamento social; e (4) a diminuição da poupança acumulada ao longo da pandemia.
O Indicador de Inadimplência CDL POA é elaborado pelo Núcleo Econômico da Entidade e mede mensalmente a inadimplência dos consumidores do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. O levantamento teve início em fevereiro de 2022 e mostra a parcela de pessoas físicas com algum tipo de restrição a crédito, cheque ou protesto.