PIB do 1º trimestre de 2022
do Rio Grande do Sul: avaliação dos dados
Visão geral: O nível de atividade gaúcho teve recuo de
-3,8% entre janeiro e março de 2022 em relação aos três meses imediatamente
anteriores, depois do ajuste sazonal. Tal desempenho ficou aquém da estimativa
do IBGE para o Brasil no mesmo período (+1,0%).
O descolamento em comparação com a média nacional ocorreu
fundamentalmente por conta do tombo da agropecuária (-28,1%). Cabe destacar que
a safra de grãos 21/22 foi duramente atingida pela estiagem, causando expressivas
perdas em culturas de suma relevância, como a soja e o milho.
No que se refere ao parque fabril, houve queda de 1,4%. Por um lado, a
transformação exerceu o principal impacto baixista (-1,8%): além da base
elevada, os efeitos da conjuntura atual – taxas de juros altas e escassez
de insumos e suprimentos, decorrentes da desorganização das cadeias produtivas
internacionais – pesaram negativamente.
Já no tocante ao setor terciário, o crescimento de +0,3% foi determinado
pela melhora do quadro sanitário e os ganhos de mobilidade da população após o
pior momento da variante Ômicron do coronavírus em janeiro. Conforme a abertura
das estatísticas, os “outros serviços” (+2,2%) – alojamento, alimentação, saúde
e educação privados –, se beneficiaram da demanda reprimida. Por sua vez, as
mudanças digitais deflagradas pela pandemia favoreceram não somente a
“tecnologia de informação” (+0,4%), como também os “transportes, armazenagem e
correio” (+1,0%), em função do uso mais intensivo do e-commerce desde
o início do distanciamento social. Na ponta oposta, o comércio apresentou
retração de 2,0%. Aqui, especificamente, entendemos que o comportamento da
massa de salários reais dos trabalhadores é crucial para explicar a dinâmica do
segmento, cujo valor permaneceu 4,5% inferior à verificada no primeiro
trimestre de 2019, em virtude da pressão inflacionária e do maior patamar de
informalidade.
Confiança do consumidor aumenta em
junho com expectativas
A sondagem de junho, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou
avanço em comparação com maio de 3,5 pontos (de 75,5 para 79,0) nas
estatísticas ajustadas pela sazonalidade. Por um lado, o componente da situação
atual apresentou leve melhora (de 69,1 para 70,4 pontos), atingindo o recorde
desde julho de 2021 (70,9 pontos). Por outro, as expectativas (81,0 para 85,9
pontos) exerceram contribuição positiva relevante, devolvendo praticamente a
integralidade das perdas verificadas em relação ao período imediatamente
anterior.
Hoje o índice encontra-se 10,0% aquém do registrado em fevereiro de 2020
– previamente à imposição do distanciamento social.
COMENTÁRIOS:
De acordo com a abertura dos dados por faixa de rendimentos, todas as 4
tiveram alta. A maior ocorreu para as famílias menos abonadas (até R$ 2.100
mensais), com crescimento de 4,2 pontos. Porém, o incremento foi insuficiente
para compensar o tombo de 9,2 pontos do levantamento precedente. A leitura
desse grupamento a respeito do futuro seguiu piorando por conta: (1) dos
obstáculos relatados em termos de perspectivas de empregabilidade; (2) da
crença de que a inflação ainda pressionará seus respectivos orçamentos; (3) dos
efeitos da majoração dos juros sobre o preço dos empréstimos / financiamentos.
Por sua vez, entendemos que as medidas do governo federal – principalmente
a liberação parcial dos saques do FGTS, o adiantamento do 13º salário para
aposentados e pensionistas e a facilitação do crédito – continuarão fornecendo
algum fôlego ao sentimento no curto prazo. Entretanto, o impulso à renda
disponível esvairá gradativamente.
A sanção presidencial do projeto que estabelece um teto de ICMS para
combustíveis, energia elétrica, comunicações e transportes coletivos, caso não
seja alvo de suspensão via questionamentos judiciais, acarretará no
barateamento temporário de tais bens e serviços. No entanto, a política já está
gerando um custo para a sociedade através da deterioração dos fundamentos das
contas públicas, provocando desvalorização dos ativos, como a taxa de câmbio.
Além disso, as incertezas com as eleições, a escassez de determinados insumos e
suprimentos no mercado internacional – freando contratações de mão de obra e a
ampliação dos seus vencimentos – e o quadro externo conturbado devem permanecer
atuando negativamente para evitar uma expansão sustentada do indicador.