A iminente invasão da Ucrânia pela Rússia está no foco das atenções dos analistas. Como resultado da escalada das tensões, cremos ser útil discutir alguns dos possíveis efeitos para o nível de atividade e os preços.
Em primeiro lugar, esse cenário provoca aversão ao risco, com os investidores buscando proteção em ativos considerados mais seguros. A turbulência geopolítica se soma também aos desdobramentos da variante Ômicron do coronavírus e à redução dos estímulos promovidos pelo Federal Reserve (BC americano). Julgamos que a conjunção de tais fatores pesou para que o Índice VIX, que mede a volatilidade esperada das ações do S&P 500 negociadas nos EUA, atingisse o maior patamar em um ano recentemente. Panoramas como o descrito, naturalmente, prejudicam a atração de capitais por parte do Brasil.
Além disso, as incertezas decorrentes do conflito provavelmente suscitariam um aumento das dificuldades para a expansão da produção das nações diretamente envolvidas, o que significaria queda da demanda externa por nossas mercadorias. De acordo com informações oficiais, Rússia e Ucrânia responderam por 0,65% da pauta de exportações nacional em 2021 (equivalente a US$ 1,81 bilhão), com destaques para soja, carne de frango e café. No caso do Rio Grande do Sul, a razão alcançou 0,71% (totalizando US$ 149,9 milhões), com relevância para proteína suína, tabaco e soja.
Da mesma forma, o imbróglio pode ajudar a manter a inflação elevada por um período superior ao imaginado. Dados do International Energy Statistics mostram que a Rússia apresenta notável representatividade na oferta de petróleo. Em 2020 foram 10,50 milhões de barris ao dia, o que coloca o país na terceira posição global com participação de 11%, atrás apenas dos Estados Unidos (20%) e da Arábia Saudita (12%). Vale lembrar que a commodity é o insumo fundamental para a fabricação de combustíveis e de diversos compostos químicos usados no cotidiano das pessoas.
Logo, diante dos pontos supracitados, entendemos que as repercussões do embate contribuirão para desacelerar o crescimento mundial em 2022.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA