As últimas projeções dos fatores que constituem o PIB pela ótica da demanda ajudam a traçar o panorama esperado para o nível de atividade em 2022. Todos os números dizem respeito ao consenso das instituições participantes do Relatório FOCUS, do Banco Central, referentes ao dia 31/12/2021.
De acordo com os prognósticos, o crescimento do Brasil totalizará apenas +0,36%. Conforme a abertura dos dados disponíveis, o consumo das famílias apresentará incremento de +0,72%. Embora a expectativa aponte para desaceleração dos preços ante 2021, o IPCA deve fechar o ano acima de 5,0%, contribuindo para retirar poder de compra dos salários. Além disso, os próximos meses possivelmente serão marcados pelo arrefecimento da retomada do mercado de trabalho, em função da característica inerente ao comportamento do emprego, que costuma reagir com defasagem aos ciclos da produção – hoje em fase recessiva.
Por sua vez, a formação bruta de capital fixo (investimentos) cairá 0,7%. Aqui, cremos que as incertezas eleitorais e a majoração da Taxa SELIC para um patamar amplamente contracionista impedirão que o resultado seja positivo.
As despesas do governo subirão +0,7%. Vale lembrar que a aprovação da PEC dos precatórios e a consequente flexibilização do “Teto de Gastos” abriram um espaço calculado em R$ 113,1 bilhões para dispêndios com transferências sociais e demais alocações.
No tocante ao setor externo, as exportações avançarão +2,8%, ao passo que o aumento previsto das importações é de +1,8%. Se as vendas destinadas aos países estrangeiros se beneficiam da depreciação da taxa de câmbio e da tendência de continuidade da recuperação global, o ímpeto para aquisições vindas de outras nações é menor, por conta do Dólar elevado e da diminuta expansão da renda doméstica.
Já para o Rio Grande do Sul, diversas estimativas das principais federações empresariais (FARSUL, Fecomércio e FIERGS) acusam variação superior no âmbito estadual em comparação com a média nacional, considerando o desempenho da integralidade dos segmentos (cerca de 0,5 ponto percentual de diferença). Entendemos que, somado ao efeito das reformas locais, pesou nessa avaliação a queda do ICMS vigente desde primeiro de janeiro, abrangendo tanto a alíquota modal como aquela incidente sobre as blue chips – energia, telecomunicações e combustíveis.
Todavia, manifestamos preocupação quanto à estiagem no território gaúcho. A ausência de chuvas adequadas pode gerar surpresas significativamente negativas sobre a agropecuária, impactando também os ramos correlatos na indústria e nos serviços.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA